“Existem mais de uma maneira de queimar um livro. E o mundo está cheio de pessoas carregando fósforos acesos…”
A citação acima está no excelente livro Fahrenheit 451, de Ray Bradbury, e retrata todo o repúdio que o Conselho Regional de Biblioteconomia da Terceira Região – CE e PI (CRB-3) manifesta, por meio desta, pela destruição do Museu Nacional e de todo seu acervo por um incêndio no último domingo, 02 de setembro.
Este conselho que lida com bibliotecas, espaços designados para a conservação e manutenção da memória, além do conhecimento contínuo, se indigna com o crime cometido contra um patrimônio do povo brasileiro e manifesta sua solidariedade a todos e todas que trabalham, pesquisam e estudam naquela instituição, que é um símbolo histórico, cultural e científico do Brasil e da humanidade.
Sabe-se que a esfera cultural e intelectual do Brasil está ameaçada desde o avanço deste governo ilegítimo que depôs uma presidenta democraticamente eleita pelo povo. Mas este triste episódio coloca diante de todos nós brasileiros que além do museu, vidas são colocadas em risco diariamente. Tudo fruto de cortes irresponsáveis no orçamento da Educação, que promove o sucateamento das universidades brasileiras, como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), responsável pelo Museu, o que culminou numa tragédia previamente anunciada, já que o seu funcionamento já vinha sendo prejudicado pela falta de manutenção e alertado por diversas vezes por seus dirigentes.
O Museu Nacional é a mais antiga instituição científica do país, que completou 200 anos no dia 6 de junho deste ano e tinha seu edifício tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Seu acervo continha cerca de 20 milhões de itens com um inestimável valor histórico, cultural e científico. Incluindo peças de grande relevância dos nossos fósseis de mais de 120 milhões de anos e uma sala inteira dedicada aos achados do na Chapada do Araripe, aqui no Ceará. Um acervo antropológico também de grande importância. Um dos maiores da América Latina. A perda é irreparável e incalculável.
É preciso que a sociedade esteja atenta e cobre uma profunda reorientação nos rumos do país, valorizando a Educação e a Cultura, porque mais incêndios estão acontecendo, e todos com as mesmas características do caso do Museu Nacional, por descaso e falta de manutenção e abandono. Assim temos o incêndio da Biblioteca Pública do Maranhão, Farol do Saber Cícero Marcelino, na cidade de Cidelândia, a 640 km de São Luís. O prédio estava inativo, era ocupado por usuários de droga e teve um incêndio que consumiu livros e móveis.
Ademais, a tragédia com o Museu Nacional reflete o descaso com políticas públicas de cultura, educação e informação e o CRB3 como órgão que prima por ações mais consistentes de cunho cultural, educacional e informacional, expressa grande consternação e ao mesmo tempo alerta as autoridades para que novas tragédias sejam evitadas.
Por fim, o CRB-3 reitera seu apoio incondicional às instituições que lutam pela revogação da Emenda Constitucional 95 e pela defesa dos serviços e do patrimônio público, para que o Brasil volte a seguir o rumo de uma sociedade mais plural, menos desigual e que valoriza de modo mais efetivo de ações que envolvam o patrimônio histórico e cultural.