Nesta terça-feira(18/02/2020) a Secretaria Municipal de Educação (SME) de Fortaleza lançou no Cine Teatro São Luiz o selo Machado de Assis, para premiar escolas da rede municipal que se destacaram por projetos de incentivo à leitura. Porém, parte da campanha: “Leitura para a vida, com vida – Todos por uma escola leitora”, o selo busca incentivar uma cultura leitora na comunidade escolar. No entanto, tal ação soa antagônica, tendo em vista, o recorrente problema das bibliotecas escolares que funcionam de forma inadequada e ilegal sem bibliotecários.

Diante do exposto, o Conselho Regional de Biblioteconomia – 3ª Região – Ceará e Piauí (CRB-3) questiona como um projeto que visa uma escola leitora não insere a biblioteca escolar em suas ações? Se procurarmos exemplos de iniciativas semelhantes em outros países como a Finlândia, Estados Unidos e Canadá veremos que a biblioteca escolar é um espaço privilegiado e valorizado pelos sistemas educacionais desses países.

É diante desses antagonismos e incoerências que nos perguntamos onde vai parar os discursos sobre educação multidisciplinar e que a escola é o espaço do plural, onde ninguém faz nada sozinho e cada profissional tem sua parcela de contribuição na escola.

Reclamamos há muito a presença de bibliotecários nas escolas para gerir esses espaços, com ações conjuntas com professores e demais atores da comunidade escolar, mas a Secretaria Municipal, recusa-se a nos atender, descumprindo até leis federais, 12.244/2010 e 4.084/1962, colocando irresponsavelmente professores para gerir esses espaços, uma vez que estão exercendo ilegalmente outra profissão. Estaria a SME acima da Lei?

Nossa reclamação, não se trata de reserva de mercado, exclusão do professor do espaço da biblioteca ou determinar que projetos de leitura restrinjam-se à biblioteca, como teimam em nos acusar alguns “defensores da educação”.

Trata-se do cumprimento da lei e de possibilitar que centenas de milhares de estudantes tenham contato com a biblioteca escolar e suas potencialidades culturais e educacionais, que há mais de três séculos vem sendo negligenciada por nossos governantes.

Procuramos o diálogo e sempre combater a perpetuação de certos discursos, como o de colocar o bibliotecário como vilão. Somos tido como uma ameaça aos professores. “Vagas para bibliotecários significam menos vagas para professores”, alardeiam, alguns desavisados. A carreira do Magistério deve libertar-se de tais preconceitos e do discurso do governo que não quer e nunca quis investir em educação de qualidade. Somos contra a alocação de professores afastados de sala de aula, por motivos de saúde, para gerir bibliotecas, e não contra estes profissionais.

Se não estão aptos para a sala de aula porque estariam para as bibliotecas? A Secretaria os rotula de professores readaptados, o que nos soa pejorativo, uma espécie de Darwinismo Educacional Docente, é um desrespeito para com o professor. Não sabendo resolver a questão e nem prestar uma assistência adequada ao profissional, a SME o realoca a outra função, maquiando o problema.

Continuaremos questionando quando a SME de fato resolverá o problema das bibliotecas escolares, contratando bibliotecários e inserindo de fato as bibliotecas na dinâmica escolar? O CRB-3 continua aberto ao diálogo e seguirá lutando pela gestão das bibliotecas escolares, por bibliotecários.